sábado, 14 de março de 2009

Mergulhadores exploram o fundo dos rios Tietê e Pinheiros, em SP

Equipe faz 3 mergulhos semanais a trabalho e já esbarrou em cadáveres e dólares
FERNANDO MASINIDA REVISTA DA FOLHA

O subsolo de São Paulo abriga uma parafernália vital ao funcionamento da cidade. Está tudo enterrado ali: o gás que consumimos,parte do sistema elétricoe as redes de fibra ótica e de saneamento. São as "veias" de um "organismo" chamado cidade. Para obter um retrato menos técnico do subsolo, a reportagem foi a lugares invisíveis à maioria das pessoas.Dos indivíduos que se metem nas profundezas de São Paulo para ganhar a vida está o mergulhador José Leonídio Santos, 42. Ao longo de 20 anos como mergulhador de risco, ele e sua equipe -que fazem em média três mergulhos semanais nas águas dos rios Tietê e Pinheiros, para manutenção de redes e outros serviços- já esbarraram em cadáveres e dólares."O Tietê é sempre uma surpresa", diz o mergulhador Pedro Ascobar, 27. A equipe já esbarrou em animais mortos, como uma sucuri de cinco metros, além de corpos humanos. "Estava tateando o fundo [do rio] e senti um pé", lembra Leonídio. Eram os restos de uma jovem, esquartejada em 1990.Bem mais agradável foi encontrar uma bolsa cheia de dólares, como aconteceu em 1988. "Havia US$ 2.000", conta Leonídio. O dono nunca foi achado. O montante ficou com a empresa que contratou o serviço.Mergulhar ao longo das marginais é um acontecimento. A roupa de PVC e o capacete, que lembram um astronauta, servem para afastar o mau cheiro.O mergulho cego chega a oito metros de profundidade no Tietê. A equipe usa o tato, já que é impossível ver nas águas turvas. Os mergulhos mais profundos, no entanto, ocorrem em ambientes mais inóspitos.O "recorde" da equipe na cidade foi em um tanque de 30 m cheio de lama bentonítica, uma mistura de água e rocha vulcânica usada em fundações de grandes obras. Eles, que não colocam o pé na água por menos de R$ 3.000, foram contratados para retirar uma peça de ferro, numa obra de um hotel no centro de São Paulo.Todas as operações são acompanhadas por um monitor, de onde se vê a localização do mergulhador. Erros são fatais, e o medo, uma constante. "Se pensar, não mergulha", diz Leonídio.A estrutura debaixo da metrópole é imensa. Muitas vias se entrelaçam. Apesar de haver, na teoria, a separação por camadas segundo a altura de cada serviço prestado, não é raro as conexões se esbarrarem.O espaço muitas vezes é ocupado por carcaças inoperantes. "Quando fizeram uma perfuração na av. Brigadeiro Luís Antônio, encontraram antigos trilhos de trem", diz Ruy Villani, diretor do Convias, órgão municipal que cuida da infra-estrutura da cidade.

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